domingo, 24 de julho de 2011

O Templo dos Homens Esmeralda – Parte I


“O facto é que havia dois corpos, nenhum sinal de luta e nenhuma pista do culpado. “

Cátia

      Cátia acordara com uma terrível dor de cabeça. Parecia que todo o mundo gritava aos seus ouvidos. Saíra da cama sem vontade, e dirigira-se à casa de banho cambaleante.
      “Raios de ressaca.” – resmungara para si mesma.
      Olhou-se no luxuoso espelho e mal se reconheceu. Umas olheiras negras profundas manchavam-lhe a face e até podia jurar que tinha duas ou três rugas na sua alta testa. O cabelo desgrenhado caía-lhe numa cascata loira sobre as costas e ainda usava o leve vestido de algodão preto da festa da noite anterior.
      Abriu a água e lavou a cara vigorosamente. Talvez assim lavasse as marcas que uma grande noite de festa lhe havia deixado. E enquanto secava a cara na alva toalha do hotel, recordou o que se passara.
      Cátia e os colegas de cursos haviam viajado para o México há dois dias. Era a sua viagem de finalistas de curso e estavam todos muito excitados com a ideia. Ficaram instalados num luxuoso hotel de quatro estrelas em Colima. Um local encantador sem dúvida. Rico em aromas, sons e cores.
      Na primeira noite saíram para ver melhor a povoação em volta. Carina, a sua melhor amiga, estava completamente delirante com a possível ideia de conhecerem uns mexicanos jeitosos. Mas Cátia não estava muito virada para esse assunto. Terminara o seu último namoro ainda não mais do que dois meses. O seu ex-namorado e seu colega de curso, também, era um rapaz alto de meigos olhos castanhos e um sorriso encantador. Tinham namorado um ano e a rapariga ainda não o esquecera. Mas Carina insistira solenemente para que ela se preparasse o melhor que podia. Escolheu-lhe o vestido mais decotado que a amiga trouxera de Portugal e conjugou-o com umas sandálias pretas, sem tacão, muito bonitas.
      A noite fora muito melhor do que alguém pudera imaginar. Haviam ficado por entre uns bares de pescadores junto à praia, embalados pelas músicas dos Mariachis e por meia dúzia de tequillhas ou quem sabe mais, talvez. Não tinha bem a certeza. A meio da noite perdera-lhes a conta. Só se lembrava de ter acordado na manhã seguinte com aquela mesma dor de cabeça que tinha agora.
      Não há ressaca que dure para sempre, nem dor de cabeça que pare um verdadeiro universitário. Assim, na noite seguinte tinham voltado à praia e a um dos bares de pescadores da noite anterior. Mais uma vez encontraram o mesmo grupo de Mariachis que animava a festa e também algumas caras conhecidas. Entre eles estava um grupo de três jovens mexicanos com quem haviam conversado na noite anterior. Eram dois rapazes e uma rapariga. Todos com peles bastante morenas, cabelos pretos lisos e olhos de um verde intenso. Elegantes e bem vestidos, com modos afáveis e sorrisos fáceis, tinham-se integrado facilmente entre os estudantes estrangeiros.  
      Naquela segunda noite, os três mexicanos convidaram os visitantes para um passeio ao luar pela praia. Diziam eles, no seu espanhol simples e claro, que as praias mexicanas à noite eram a coisa mais bela e mais sinistra que alguma vez veriam nas suas vidas. Ninguém levou aquelas palavras realmente a sério, mas mesmo assim aceitaram de bom grado o convite. Munidos de várias garrafas de tequilha, para dar de beber aos peixinhos, segundo dissera Tiago, o ex-namorado de Cátia, partiram descalços pela praia fora.
      Como sabia bem caminhar naquela areia macia, com a aragem marítima a afagar-lhes os cabelos!
      Quando chegaram a uma pequena baía os anfitriões pararam. Segundo eles ali estava o melhor local para descobrir as maravilhas e mistérios das praias mexicanas. O grupo instalou-se, então, confortavelmente na areia. À sua frente o mar aberto apenas era interrompido por um pedregulho gigante cerca de cinquenta metros da linha onde a água beijava docemente a areia. Lembrava-se de terem bebido, rido e conversado muito. Lembrava-se de ver os três amigos entrar no mar para um mergulho nocturno. Tiago, Carina e os outros haviam entrado também. Mas ela tinha medo do mar. Se já o achava demasiado perigoso de dia, o que poderia dizer à noite? Deixou-se, portanto, ficar deitada de costas na areia, contemplando o céu estrelado. Ouvia os gritinhos esganiçados das raparigas e os risos travessos dos rapazes na água. Ouvia alguns chamarem pelo seu nome de vez em quanto, mostrando-lhe que não havia nada a temer. Mas ela estava bem ali e não sairia por nada.
      Subitamente, ouviu algo a raspar na areia, mesmo por trás da sua cabeça. Levantou-se sobressaltada, mas era apenas a rapariga mexicana que ali se encontrava. Não dera conta pela sua aproximação, nem mesmo quando passara pela sua frente. Devia estar realmente a ficar bêbada.
      Cátia baixou a toalha, trazida de novo à realidade. Realmente devia ter ficado mesmo muito bêbada naquela noite, pois não se lembrava de mais nada depois da mexicana ter ido sentar-se junto dela na areia. Bem, eram horas de um bom banho, e depois acordar o pessoal para um bom pequeno-almoço. Ou deveria dizer lanche? Riu-se e seguiu o seu plano.
      Depois da árdua tarefa de arrancar Carina da cama lá foram comer alguma coisa na esplanada do hotel.

Carina

      Carina sentira-se uma princesa depois de ver o estado lastimável em que se encontrava a amiga naquela manhã. Parecia ter sido atropelada por um camião. Era no que dava não estar habituada a grandes festas. Ela bem a aconselhara a ir treinando durante os três anos de curso, mas a rapariga nunca lhe dera ouvidos. Tinha sido uma verdadeira santa durante todo aquele tempo e agora nem queria acreditar que Tiago tivera que a levar ao colo para o hotel na noite passada.
      - Tu ontem ficaste num estado… - começou ela a espicaçar a amiga.
      - Não comentes isso por favor. Como raios é que eu cheguei cá? Não me lembro de nada. – queixou-se levando a mão à cabeça, queixosamente.
      - Há duas noites que já não sabes como chegas ao quarto.  – comentou Carina rindo-se descaradamente e continuou – Então não te lembras de ser transportada ao colo por um príncipe encantado?
      Vendo a expressão de confusão que a rapariga lhe mostrava, lá lhe contou como a tinham encontrado a dormir na areia ao lado da mexicana e como Tiago a carregara até ao quarto. Nesta última parte sabia que Cátia teria corado, se tivesse sangue suficiente para o fazer.
      Estava branca como a neve, as manchas arroxeadas por baixo dos seus olhos pareciam cada vez piores e quando uma súbita náusea ameaçou devolver toda a comida à mesa, Carina começou a preocupar-se.
      - Não queres passar na enfermaria do hotel? – perguntou colocando-lhe a mão na testa. – Estás a ferver.
      Cátia recusou-se a ir à enfermaria explicando que só precisava de descansar. À noite já estaria boa.
      - Boa ou não, esta noite não sais. Eu fico aqui contigo.          
      A amiga lançou-se um olhar carrancudo mas acedeu.
      Depois do pequeno-almoço, Cátia foi para o quarto e Carina decidiu dar ela própria um saltinho à enfermaria. Ela sabia o que era estar com ressaca e algo lhe dizia que a amiga tinha mais do que isso. No pequeno consultório encontrou uma mulherzinha pequena, de cabelos grisalhos e bochechas proeminentes. A enfermeira ouviu-a atentamente e a sua expressão ia-se carregando mais à medida que ela descrevia os sintomas. Olheiras profundas, palidez, dor muscular, náuseas e febre, enumerara ela, ao que a senhora logo lhe pediu para trazer Cátia à enfermaria.
         Carina correu até ao quarto 204, pronta para arrastar Cátia até à enfermaria de qualquer jeito. Quando entrou a amiga dormia profundamente e as cores haviam retornado às suas faces. Oh, como fora precipitada! Afinal a amiga estava bem. Não era necessário incomodá-la.

Cátia

Noite cerrada, um céu sem estrelas, onde uma Lua gélida e sombria paira por cima do mar. Uma onda de frio espalha-se pelo corpo. A Lua parece estar cada vez mais perto, cada vez maior. Já não é um berlinde lindo lá no céu, mas sim uma bola gigante, de formas estranhas, quase que viva… e cada vez mais perto… mais perto… mais perto.
- Aiiiiiiiiiiiiii!
      Cátia acordou, com o rosto coberto de suor. O seu corpo tremia descontroladamente, como se tivesse apanhado um choque eléctrico. Ainda ofegante recostou-se na cama, olhando o vazio.
      Tinha sido o pior pesadelo que alguma vez tivera. E parecera tão real. De novo um arrepio se apoderou dela. Olhou para o relógio florescente que estava em cima da mesa-de-cabeceira e ficou aterrorizar.
- Meia-noite! Não pode ser. – barafustou cobrindo-se de novo com os lençóis.
      Uma hora depois continuava acordada. Não tinha sequer coragem para fechar os olhos, pois sempre que o fazia novamente lhe surgia na cabeça aquela imagem horrível. Aquele lugar, aquela mulher e aquele frio letal, que se entranhava não só no corpo, mas na alma.
      “Preciso de falar com alguém.” pensou, no entanto, olhando novamente para o relógio pôs logo a ideia de parte. Os amigos estavam todos na praia a festejar e Carina adormecera na cama ao lado com uma revista de moda em cima do peito.
Acabou, assim, por também ela adormecer.
      E lá estava ela, mais uma vez, no meio da praia. Um fraco luar espalhava-se pelas ondas e pela areia. Novamente, uma horrível sensação arrebatou-a com toda a força. Sentia-se vigiada por mil olhos.
      Perscrutou em volta assustada. E foi aí que a viu, novamente. Lá estava ela, fantasmagórica, espectral. Os seus longos cabelos ondulando ao sabor duma brisa inexistente. Mas quem era ela? Caminhou na sua direcção, mesmo sem o desejar, dando-se conta que perdera o controlo do próprio corpo.
Encontrava-se, agora, tão perto que lhe podia sentir a respiração lenta e ruidosa. Era como se não respirasse apenas o ar. Era como se tentasse sugar a energia à sua volta.
Cátia tremia com medo… com frio… tremia não sabia bem porquê. Aquela mulher era surreal. Já não se perguntava quem era ela, mas o era ela, afinal?
Cada vez mais próxima, reparou, então, em algo. Por entre a escuridão que lhe envolvia o rosto, um verde-esmeralda cintilava nos seus grandes olhos. De repente, o seu corpo parou. E os olhos da estranha cravaram-se nos da nossa amiga como setas. Hipnotizada, Cátia começou a sentir o corpo mais leve, mais solto. O frio continuava a dilacerá-la por dentro, mas era como se a sua alma começa-se a deixar o corpo.
Então, muito lentamente, uma voz sussurrou-lhe ao ouvido:
- Vem comigo… Vem…
E como ela gostava de ir! Mas algo dentro de si dizia-lhe que não o devia fazer.
      Por momentos, conseguiu desviar o olhar para o céu, fixando-o na Lua enorme, ameaçadora, e ao mesmo tempo tão brilhante, tão atraente!
      Sem aviso, uma dor aguda estourou dentro de si, seguida da onda de calor que lhe inundou todo o corpo.
      - Aiiiiiiiiii! – alguém gritava. A voz era-lhe tão familiar e estava tão perto.
      A rapariga abriu os olhos, e encontrou-se, uma vez mais, no quarto de hotel. No entanto, desta vez, continuava a sentir aquela dor aguda e aquele calor que parecia provir de si mesma.
Levantou-se e cambaleou até junto do enorme espelho da casa de banho. Quando viu a sua imagem reflectida neste, as poucas forças que lhe restavam esvaneceram-se. O objecto mostrava uma Cátia pálida, desgrenhada e com um estranho objecto escuro cravado na zona do estômago. O sangue começava a escorrer pelo pijama, manchando-o.
Quando se preparava para pedir ajuda, uma gélida respiração junto ao pescoço cortou-lhe os movimentos. Uma voz profunda sussurrou-lhe:
- Vem comigo… Vem…
      E uma reconfortante escuridão colocou-se, sobre os seus olhos…

Carina

      Carina acordara com um grito tão terrível, que parecia sido trazido directamente do próprio inferno. Olhou em volta amedrontada, mas tudo parecia estar bem. O quarto estava escuro e não havia sinal de movimento. Esticou o braço apalpando a parede à procura de um interruptor de luz e quando finalmente o encontrou, o quarto adquiriu novos contornos.
      A cama de Cátia estava vazia. Onde teria ela ido?
      Espreitou por todo o quarto, mas ela não estava em lado nenhum. Correu à casa de banho, mas a porta estava aberta e a luz apagada. Ouviu barulho na rua e correu à janela, mas eram apenas foliões cantando ao luar. Para onde teria ido Cátia?
      Sentou-se numa cadeira dando voltas à cabeça. Fitou novamente os lençóis desleixados na cama da amiga e algo lhe chamou a atenção. Uma pequena mancha vermelha quase indetectável, não fosse o branco imaculado dos lençóis apenas corrompido pelo logótipo do hotel bordado a dourado. A rapariga correu a descobrir o que era aquilo. Aproximou-se tanto que o seu nariz quase tocou a nódoa. Com uma súbita agonia afastou-se da cama. Aquilo parecia-se demasiado com sangue!
      Os seus olhos varreram o chão e, tal como temia, encontrou um rasto de pequenas gotas vermelhas na carpete creme que o cobria. Seguiu-o sentindo que os músculos lhe podiam faltar a qualquer instante. O rasto levava à casa de banho. A medo procurou a luz e acendeu-a. Nunca o deveria ter feito. Nunca deveria ter entrado sequer naquela casa de banho.
      O seu mundo parou! Estava tudo errado! Aquilo só podia ser um pesadelo!
      Cátia jazia imóvel no chão de mosaico branco. A sua camisa de dormir colava-se ao corpo impregnada de sangue. Os seus olhos fitavam o vazio como que procurando ajuda. Na barriga espreitava um pedaço de madeira do tamanho de uma perna de cadeira.
      Era a visão mais horrível de sempre! As lágrimas corriam-lhe silenciosamente pela cara. O corpo perdera toda a força e deixara-se cair de joelhos. Encostara a cabeça ao umbral da porta temendo qualquer movimento.  
- Vem comigo… - Carina estremeceu.
Um súbito frio começou a espalhar-se pelo corpo partindo do pescoço até ao coração. Uma respiração assustadoramente lenta e ruidosa vinha de junto a si.
- Vem comigo…  - repetiu a mesma voz de mulher.
A amiga temia virar-se e enfrentar a sua interlocutora. Mas subitamente percebeu que se era a dona daquela voz a responsável pela morte da sua melhor amiga, ela nem sabia com quem se tinha metido. Deu uma última olhadela ao cadáver de Cátia, levantou-se e rodou nos calcanhares pronta para vingar a amiga.
- Tu? – exclamou ao dar de caras com a jovem mexicana dos olhos verdes.
A rapariga sorriu-lhe, mas o seu sorriso não era mais que um esgar. O seu rosto não era mais belo nem amigável, mas sim seco e cruel. E os seus dedos mexiam-se fervorosamente, formando ângulos anatomicamente impossíveis.
      - Quem és tu? – berrou Carina dando um passo atrás.
- Vem comigo…  - repetiu pela terceira vez.
- Eu não vou contigo a lado nenhum. Tu matas-te a minha melhor amiga. Vais pagar caro, por isso. – cuspiu-lhe Carina.
Mas a criatura nada fez ou disse, olhando com desdém por alguns segundos. Em seguida tudo se sucedeu demasiado rápido. Num momento a mexicana estava a dar um passo na sua direcção, noutro desaparecera deixando apenas um fumo negro no ar e no seguinte via a velha enfermeira manejando um esguio objecto prateado muito brilhante.
Mais uma vez Carina caiu sobre os joelhos cansados. Mas agora soluçava bem alto, perdendo todo o controlo que tivera. Quando por fim conseguiu levantar os olhos para a enfermeira, balbuciou:
- Ela matou a Cátia. – e cada palavra feria-lhe o peito como uma espada.
- Não querida. – respondeu-lhe a velha.
Carina não entendia. Quereria ela dizer que a amiga ainda poderia estar viva? Uma súbita esperança assaltou-lhe os sentidos, deixando-a mais desperta. Foi só então que reparou que a velha mulher ainda segurava firmemente o objecto prateado. E pior tinha-o apontado para si.
- Tu mataste-a. – acusou ela num tom que transparecia desgosto.
A rapariga estava estupefacta. Nem queria acreditar que aquela desconhecia a acusava de assassinar a sua melhor amiga. Mas o que era aquilo?
- Olha para as tuas mãos. – indicou-lhe então a enfermeira.
Ela obedeceu inconscientemente, cansada de mais para discutir. Mas, algo estava errado ali. Se ela não tocara em Cátia, porque estavam as suas mãos manchadas de sangue seco?
- Olha os teus olhos. – indicou mais uma vez a mulher e novamente Carina lhe obedeceu.
Ao virar-se para o grande espelho, por momentos, pensou estar a ver outra pessoa. Tinha uns estonteantes olhos verdes-esmeralda, iguaizinhos aos dos três jovens mexicanos. O que significava aquilo?
- Não – gritou ao tomar consciência da realidade.
- Sim, minha querida. A tua amiga deu-lhes luta, mas tu não. Foste infectada. 
O olhar da mulher era triste e cansado. Estudou-a intensamente através do espelho e sussurrou:
- Desculpa.
Depois desta palavra Carina só viu uma intensa luz branca e depois o vazio tomou conta de si.

Tiago

      Ainda hoje não acredito no que vi naquela manhã. Quando cheguei ao hotel estava uma avalanche de carros da polícia à entrada. Pensei que fosse algum assalto ou briga de bêbados. Nem podia imaginar o que me esperava lá dentro.
      Atrás de mim alguns dos meus colegas empurraram-me para que entrasse. Estavam cansados e queriam ir dormir. Mas eu estava bem sóbrio aquela noite. Não me conseguira integrar na festa. Tinha o pensamento preso no quarto 204 e numa rapariga que aí dormia doente. Uma rapariga que eu descobrira na noite anterior, quando a carregava nos braços, que ainda a amava. 
       Deixei os outros seguirem para os quartos deles e dirigi-me ao dela. Tinha que conversar com ela o mais rapidamente possível. Para dizer a alguém que a amamos nunca há um cedo de mais, mas apenas um tarde de mais. E no meu caso cheguei tarde de mais.
      Ainda estava a meio do corredor quando vi dois polícias de plantão em frente ao quarto. Corri para eles sem me conseguir controlar. Perguntei-lhes o que se estava a passar, mas eles responderam-me para me manter afastado que não era nada comigo. Não era nada comigo? Então estavam em frente ao quarto da minha namorada e não era nada comigo? Berrei-lhes. Ao ouvirem as minhas palavras os homens entreolharam-se cautelosos. Em seguida deixam-me entrar, acompanhando-me até um homem alto e de bigode espetado. Os polícias apresentaram-me como o namorado de uma das meninas, o que não era totalmente verdade, mas também não interessava para o momento.     
           O homem apresentou-se como sendo o Inspector Diez, o que na altura me lembrou uma qualquer série de televisão. Em seguida guiou-me até à casa de banho do quarto, pedindo-me para ter calma. Mas eu estava calmo, não conseguia entender o que se estava a passar.
      Tive o pior choque de sempre. Mal entrei na ampla divisão dei de caras com dois corpos estendidos no chão, cobertos de sangue. Dois corpos de rapariga. Duas raparigas que eu conhecia. A minha amiga Carina e a minha doce paixão Cátia.
      Tudo o que se pode descrever da cena do crime está nos relatórios policiais e eu nem me atrevo a confiar na minha memória para vos contar. Estava demasiado atordoado para reparar no que quer que fosse. O facto é que havia dois corpos, nenhum sinal de luta e nenhuma pista do culpado. Misteriosamente, os olhos de Carina haviam mudado de cor e todo o sangue ali espalhado pertencia a uma única pessoa, à minha Cátia.
      Até hoje, passados dois anos, ninguém sabe explicar o que se passou naquela noite. Mas eu tenho a certeza que o culpado ainda anda por aí e a próxima vítima poderá ser qualquer um de nós.

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