domingo, 22 de setembro de 2013

Carla Ribeiro - Parte I - Entrevista com a escritora


Aqui está uma imagem que deixa qualquer amante de livros simplesmente em delírio. E sabem a quem pertence esta estante de invejar? Pois bem, esta é, apenas, parte da coleção pessoal de livros da escritora convidada de Setembro, do 100% Fantasy: Carla Ribeiro




Com apenas 27 anos, a Carla conta com a publicação de mais de uma dezena de obras individuais, e ainda com várias parcerias com outros escritores e participações em antologias literárias.

A Carla é ainda a administradora de diversos blogs, dos quais se destaca “As Leituras do Corvo”. Blog de referência no mundo literário nacional, sendo as suas críticas mencionadas por prestigiadas editoras.



Da extensa lista de publicações fazem parte títulos como: Herdeiros de Arasen, Canto da Eternidade, O Deus Maldito, e Senhores da Noite.

O 100% Fantasy chegou à conversa com a Carla Ribeiro, que prontamente nos concedeu uma entrevista. 



Entrevista

Começaste a escrever com apenas 14 anos.
O que escrevias e em que é que te inspiravas nessa altura?
Eu penso nos 14 anos como o início de tudo, porque foi o meu ponto de viragem. Já me sentia puxada para a escrita antes e já tinha feito algumas coisas, mas foi por essa altura que comecei a viver a sério o impulso da escrita, a vê-la como o meu refúgio e a minha compulsão. Também foi nessa altura que comecei a participar em iniciativas, a mostrar os meus textos a pessoas mais ou menos próximas, a ponderar projectos concretos. Comecei a escrever pequenos contos, mais ou menos fantasiosos – e, sim, alguns eram um pouco improváveis. E poesia. Muita poesia. Mas essa é uma companheira que me segue – ou que sigo? – desde sempre. 

Sabemos que arrecadaste prémios em vários concursos literários em Portugal e no Brasil. 
Lembras-te do primeiro prémio que ganhaste?
Lembro-me dos primeiros, sim. Ainda tenho uma memória particularmente vincada do prémio Douro Leituras e de ter de escolher material num determinado valor – livros, cds, tecnologia – e da experiência que foi receber uma caixa enorme cheia de livros. Isto no tempo em que a minha biblioteca pessoal era pequenina. E lembro-me daquela emoção especial de sentir algum valor para as minhas palavras, para além do que tinham para mim. Foi, e continua a ser, um imenso conforto e um grande estímulo.

Numa entrevista ao Blog Morrighan, em 2010, eleges como Mestres, Edgar Allen Poe e William Shakespeare, e como inspirações mais contemporâneas, Anne Bishop e Marion Zimmer Bradley.
Qual ou quais as tuas obras favoritas?
 Ah, é complicado escolher obras favoritas, quando há tantos livros que amo e que gostaria de referir. Mas, e para que os leitores não se cansem de mim, vou limitar-me aos mestres de então, e a mais algumas leituras marcantes. De Poe gosto de tudo, mas tenho um carinho especial pelo conto The Masque of the Red Death. Tem tudo o que eu aprecio numa história. De Shakespeare, tenho de destacar uma das peças menos citadas, mas que nunca deixa de me impressionar, Titus Andronicus. Anne Bishop é a minha autora favorita e tudo o que seja do mundo das Jóias Negras tem um lugar especial no meu coração. E da Marion Zimmer Bradley é inevitável citar As Brumas de Avalon. Mas a estes livros de sempre, gostaria de acrescentar outros favoritos incondicionais, como a saga Kushiel, da Jacqueline Carey, A Dança de Pedra do Camaleão, do Ricardo Pinto – ainda me parte o coração lembrar-me de alguns momentos dessa trilogia! – e a trilogia A Árvore do Céu, da Edith Pargeter. Todos estes foram livros que me falaram à alma. E que me fazem sentir pequenina ante a mestria dos seus autores.

O teu primeiro livro “Estrela Sem Norte” foi publicado em 2005, pela Corpos Editora.
O que sentiste no momento em que tiveste o teu primeiro livro nas mãos?
É mágico. Olhar para ele, tocar a capa, as páginas. Olhar outra vez e pensar “Está aqui. Fui eu. É meu. Está mesmo aqui”. Não há outra forma de o descrever, para mim, senão como uma magia maravilhosa.

O teu mais recente livro intitula-se “Senhores da Noite” e foi publicado em 2010 pela Fronteira do Caos.
Fala-nos um pouco sobre esta obra.
Bem, o Senhores da Noite é um caso muito particular no meu imaginário. É que eu tenho uma tendência especial para me sentir atraída por personagens do lado dos bons – heróis, mártires, inocentes injustiçados, gente deste género – e isso reflecte-se no que eu escrevo. O Senhores da Noite nasceu da ideia de contrariar esta tendência. Quis criar uma história em que não houvesse heróis e vilões, mas simplesmente um cenário de conflito e, em certa medida, a luta pela sobrevivência do mais forte. Daí nasceu esta história, que quis que fosse sombria, mas, mesmo assim, com sinais desse tal carácter que me atrai.

Tens obras publicadas em géneros distintos: poesia, fantasia, contos…
Existe alguma linha que seja transversal a todos os teus trabalhos?
 Não lhe chamaria propriamente uma linha. Mas escrevo de acordo com o que me fala ao coração e isso implica que o que sou e o que sinto se reflicta nas minhas palavras. Isso acaba por criar pontos em comum, de ambientes, de expressões, de traços de personalidade que se insinuam numa personagem. E isso está presente, independentemente do género em que estou a escrever.

Dizes ter uma ligação emocional muito forte com as histórias que crias.
Esse apego emocional já alguma vez te fez mudar o destino que tinhas previamente traçado para uma personagem ou grupo de personagens?
 Normalmente, não acontece. Tendo em conta a tal tendência que eu tenho para heróis e mártires, não é muito provável que eu venha a poupar uma personagem, por mais que isso me parta o coração. E parte, às vezes, quando, na minha cabeça, vivo a vida da personagem como se fosse minha. Mas pequenas mudanças de percurso… Isso sim, tende a acontecer. Há alturas em que parece que eles ganham vida. E a história vai para onde tem que ir.

Como é a tua relação com os teus fãs?
 Discreta. Quem me conhece sabe que eu sou um pouco insegura e é preciso muito pouco para condicionar os meus estados de espírito relativamente à escrita. Por isso, normalmente não acompanho muito as opiniões que vão surgindo, a não ser que mas façam chegar directamente. Mas ando por aí, por esse cibermundo fora, e estou sempre disponível para satisfazer a curiosidade de quem quiser saber mais sobre as minhas histórias.

Como descreverias “O mundo Carla Ribeiro”?
 Um lugar estranho. Com muitas histórias por contar, muitos lugares inesperados e algumas pessoas imaginárias interessantes para conhecer. Ah, e também um mundo de musas erráticas, silêncios interiores e alguma esperança. Sempre alguma esperança.

Projetos para o futuro?
 Acabo de sair de um hiato de alguns meses sem escrever e de uma percepção renovada de que não sou eu sem contar as minhas histórias. Por isso, projectos não me faltam. Estou a trabalhar num novo romance, tenho um conjunto de contos terminados a que gostaria de acrescentar mais alguns e um outro romance – e alguma poesia – na gaveta. Planos de publicação? Não é coisa que esteja apenas nas minhas mãos. Não sei o que virá. Mas quanto ao resto, o plano é recuperar o tempo perdido e regressar em força à escrita

O 100% Fantasy agradece a disponibilidade da Carla e deseja-lhe muito sucesso.


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